Descoberta: Rios atmosféricos e umidade do solo são gatilhos para enchentes devastadoras como no RS
Um novo estudo examinou décadas de tempestades de rios atmosféricos na Costa Oeste dos EUA para identificar quais condições levam a inundações catastróficas - como a umidade presente no solo.

Rios atmosféricos são responsáveis por uma gigantesca gama de fenômenos atmosféricos. Uma das suas funções mais importantes é prover umidade para regiões que, de outra maneira, não a teriam. No entanto, rios atmosféricos também estão conectados a episódios de chuva torrencial associados a grandes enchentes, alagamentos e inundações - Como as chuvas que estão acontecendo nos últimos dias sobre o Rio Grande do Sul.
Impulsionados pelo potencial destrutivo que esse tipo de sistema oferece, cientistas norte-americanos pesquisaram fatores adicionais que impulsionam as inundações, a fim de ajudar comunidades e gestores hídricos a se prepararem melhor.
Solo úmido impulsiona o impacto dos rios atmosféricos
Para isso, eles analisaram mais de 43 mil tempestades causadas por rios atmosféricos em 122 bacias hidrográficas na Costa Oeste dos Estados Unidos, entre 1980 e 2023.
Um dos destaques confirmados pela pesquisa é que os solos já encharcados, que não conseguem absorver mais água quando a tempestade chega, são um dos fatores mais significativos para a ocorrência de inundações.

O estudo mostrou que episódios de enchentes foram até 4,5 vezes mais severas e intensas quando o solo já estava úmido. Esse achado ajuda a explicar por que algumas tempestades de rios atmosféricos causam enchentes catastróficas, enquanto outras, com intensidade semelhante, não.
Mas não é apenas a saturação do solo que conta na hora de uma inundação: o tipo de solo também faz total diferença. Em regiões áridas como a Califórnia e o sudoeste do Oregon, tempestades que ocorrem quando os solos já estão saturados têm maior probabilidade de causar inundações.
Isso porque as bacias nessas regiões possuem solos rasos, argilosos e com baixa capacidade de armazenamento de água.

Por outro lado, em regiões mais úmidas como o estado de Washington e as partes interiores das cadeias de montanhas de Sierra Nevada, solos mais profundos conferem maior capacidade de armazenamento e são capazes de atenuar os efeitos de tempestades severas.
Solo úmido agrava a situação do Rio Grande do Sul
Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul vivenciou um dos maiores desastres climáticos da história do Brasil. Um episódio de chuvas extremas e persistentes, iniciado no final de abril, provocou enchentes devastadoras que afetaram mais de 90% do território, deixando mais de 180 mortos, milhares de desabrigados e causando danos imensos na infraestrutura.

Desde então, índices de precipitação padronizada continuaram classificando persistentemente o solo do Rio Grande do Sul como bastante úmido - mesmo após a estiagem que predominou no segundo semestre de 2024 e início de 2025.
Essa situação deixa o estado ainda mais propenso a episódios de inundações severas, como os que estão sendo observados nos últimos dias devido à presença de um rio atmosférico na região.
A situação sinaliza ainda que, enquanto o solo do estado permanecer úmido, haverá risco de outros grandes episódios de enchentes e alagamentos no Rio Grande do Sul. Portanto, infelizmente, novos episódios como este podem continuar ocorrendo ao longo de 2025.
Referências da notícia
A Multi-Scale Analysis of the Extreme Precipitation in Southern Brazil in April/May 2024. Atmosphere, 2024; 15 (9). Reboita, et al.
Wet Antecedent Soil Moisture Increases Atmospheric River Streamflow Magnitudes Nonlinearly. Journal of Hydrometeorology, 2025; 26 (6). Webb, et al.